# Gabinete(15)

>Gabinete nasce como uma pesquisa, uma tentativa de melhor perceber aqueles com quem divido boa parte dos meus dias, os colegas de profissão. Sempre observei suas mesas, territórios, identidades e fronteiras, imaginando quem eram aqueles escondidos por trás daquela rotina litúrgica. Então, ali, por meio da disposição dos objetos pessoais, fotografias e livros, fui convidado a um aprofundamento, um rápido mergulho nas nuances individuais e nas particularidades de cada história de vida. Esse mergulho, reforçado por textos sobre cada um dos usuários das mesas, é confrontado à uniformização do ambiente onde os gabinetes são dotados de um mesmo padrão, diante do qual os indivíduos, apesar de suas intervenções no espaço, tendem a ser enxergados mais como um coletivo, os funcionários, e menos como seres individualizados, pessoas. Para tanto, foram formatados trípticos, nos quais a primeira imagem, registrada por uma lente bizarra [utilizando o termo adotado por Arlindo Machado em sua obra “A Ilusão Especular”], distorce o objeto fotografado, um artifício utilizado de modo proposital para propiciar, de modo simbólico, a impressão distorcida pela qual a minha visão capta o pouco conhecimento daquele com quem trabalho [conheço apenas a parcela de sua pessoa que me é mostrada ou que se quer mostrar]. Entretanto, na medida em que me esforço para aproximar-me na relação com aquele ser humano, representado ali por um objeto destacado em meio ao seu espaço particular, o qual considero, diante de um maior conhecimento adquirido, aquilo que mais se adapta à nova visão criada, recorro a uma lente normal. Por fim, na fase de maior imersão sobre cada personalidade, e de modo paralelo, foi solicitado a cada funcionário uma redação auto-descritiva, sem que soubessem, contudo, para o que seria o texto elaborado ou até mesmo que fotografias de suas mesas de trabalho estavam sendo produzidas (todas as imagens foram registradas entre 05:30 e 06:30 da manhã, quando não havia qualquer funcionário no ambiente).